O documentário e a escuta sensível do lugar: quando escola e cinema formam um povo / Eduardo de Oliveira Belleza
Há pelo menos duas maneiras do cinema habitar a escola. Uma a serviço de um
povo suposto, que já está na escola e necessita que o cinema se adapte. A outra diz
respeito a fazer do encontro entre cinema e escola a possibilidade de emergir um
povo. Um povo sem modelo, sem cartilha, sem uma ordem dominante. São duas
dimensões muito distintas e que implicam em políticas dessemelhantes, não só com
as imagens, mas, sobretudo, com a educação. Diante disso, pensemos: quais
negociações a relação cinema e escola é capaz de produzir? Essa questão faz
perceber a instauração de outros modos de existência tanto para o cinema quanto
para a escola. Assim, entendemos o encontro entre ambos, como ação que amplia o
grau de realidade do lugar, por tornar sensível o que até então não era possível ser
percebido. Dessa maneira temos formado um povo, sempre porvir, pois ele não
cessa de povoar a educação de outra(o)s possibilidades/problemas. A pesquisa,
portanto, versa na interface entre cinema e escola e as suas interferências criativas.
Apostamos na educação como experimentação de processos em aberto e temos
vislumbrado o documentário como uma forma de arte que tem potência de produzir
uma escuta sensível. É uma aposta da qual nos empenhamos em tratar. É também
uma política, na medida em que nos possibilita relações que produzem saberes. Em
oficina buscamos lidar com isso através de alguns filmes do cineasta Eduardo
Coutinho, como uma caixa de ferramentas de onde extraímos algumas questões
para pensar a própria escola, o cinema e a educação através das imagens. A partir
dessas conversas e de alguns exercícios audiovisuais criados no campo da
pesquisa, nos lançamos ao desafio de filmar em meio a tantas negociações que
esse processo engendrou. O filme realizado com alunos e professores de uma
escola municipal da cidade de Campinas-SP, intitulado pelos realizadores como
“Saber Poder”, é uma parte desse processo (não a mais importante), sem dúvida um
conjunto de imagens que nos provoca e desassossega acerca da presença do
cinema na escola e da escola no cinema. Para ler a tese de doutorado (319 págs.) de Eduardo de Oliveira Belleza clique aqui
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