Soneto do sono" - Ruy Espinheira Filho
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Soneto do sono
A tarde é tão serena que parece
vir do hálito que sobe do teu sono.
Vejo-te ir nas nuvens do abandono,
comovido de calma. A tarde desce
ao longe, sobre o mar. Mas lenta e leve,
como a exalar o sonho desse sono.
E tudo, enfim, é o sopro do abandono
e o seu sussurrar na mão que escreve.
Dormes como num voo. Como se fosse
quando o tempo era jovem. E então me sinto
pleno de mar e luz e céu ̶ e sou
soberbo e claro por estar absorto
no abandono desse pó de estrelas
que se juntou para inventar teu corpo.
Ruy Espinheira Filho
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