quinta-feira, 25 de abril de 2019

"Amor é música"- Casimiro de Brito

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Amor é música

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Música pura e louca, o amor. Umas vezes uma elegante sonata, outras vezes uma sinfonia radical.



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Tão cerrados estivemos que nenhum de nós sabia distinguir a música de um coração da música do outro. O mesmo sopro e, no mesmo andamento, o caos do sangue.



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Um corpo de fábula. Um rio de duas cabeças. Música interior. Quando nos amamos.



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Tão colados estávamos um ao outro — tão fundidos — que não sentíamos nada, ou um nada que é tudo: a música uníssona de todos os nossos sentidos e de mais um, comum aos dois, a gratidão.



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Tanta música a que tenho para ouvir — mas se te tivesse comigo era no teu corpo que eu plantava o meu ouvido, o meu corpo, que todo ele seria ouvido.



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O amor, a arte de amar, é uma ópera íntima. Que tudo entra na arte de amar: o canto (o ruído dos dois corpos, a sua música inovadora), a poesia (corporal, improvisada), a dança (ora pantomímica, ora romântica), a emoção, a escultura ao vivo, a pintura (a mudança subtil da cor dos corpos, o concerto dos seus líquidos mais ou menos coloridos), enfim, o derrame dos corpos um no outro, ora caindo, ora elevando-se e sempre, mas sempre, renovando-se. E penso também na caça e na gastronomia! Outro amor não conheço ou não merece esse nome. Se a ópera é a arte absoluta o amor é a ascensão do ser humano à sua absoluta harmonia, venha ela das fundas terras ou dos altos céus.



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Amemo-nos sem medo nem limite. Assim. A regra primeiro do amor é a sua imperfeição.



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Ah como são pouco, tão poucos, todos os beijos do mundo. 



Casimiro de Brito





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