quinta-feira, 31 de maio de 2018

"Três fragmentos de um poema para a minha amada" - Casimiro de Brito

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Três fragmentos de um poema para a minha amada

III
O amor: amêndoa clara
que tu mastigas, primeiro com os olhos,
depois com a boca
insaciável. Fomos tão belos,
tão frágeis e devastados
que os outros da barca nos lançaram
borda fora.

VI
Bebo águas tuas no vaso
que as contém. A gota comovida
vai transformar-se em rio.
Sorvo nas tuas mãos o osso
e a carícia, o cerne mais cru
e a solidão de quem sobrevive
ao sexo ardente. Também eu ardo
onde fui sede e palavras fatigadas.

VII
Eu posso beber um rio
afogar-me nele inundar-me
inundá-lo
mas não posso queimá-lo não posso
queimar o rio amado
e deixar-me dormir a seu lado —
eu posso beber um rio
o teu rio
ou uma lágrima e cantá-la
decantá-la
o que não posso não sei não seria capaz
é afogar-me no rio amado
e continuar
em paz.


Casimiro de Brito

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