quinta-feira, 13 de julho de 2023

"A bunda, que engraçada" - Carlos Drummond de Andrade


 


A bunda, que engraçada

 

 

 




A bunda, que engraçada.


Está sempre sorrindo, nunca é trágica.



 

Não lhe importa o que vai


pela frente do corpo. A bunda basta-se.


Existe algo mais? Talvez os seios.


Ora – murmura a bunda – esses garotos


ainda lhes falta muito que estudar.



 

A bunda são duas luas gêmeas


em rotundo meneio. Anda por si


na cadência mimosa, no milagre


de ser duas em uma, plenamente.



 

A bunda se diverte


por conta própria. E ama.


Na cama agita-se. Montanhas


avolumam-se, descem. Ondas batendo


numa praia infinita.



 

Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz


na carícia de ser e balançar.


Esferas harmoniosas sobre o caos.



 

A bunda é a bunda,


rebunda.



 

 

 

Carlos Drummond de Andrade

 


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