sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Rosangela Guerra: O que os jovens estão nos dizendo

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Rosangela Guerra*


Os jovens levam para a sala de aula a sua cultura e o seu modo de ver o mundo. Os questionamentos da juventude nos provocam e nos fazem refletir: há espaço para a participação juvenil na escola?

           Para a secretária de educação de Minas Gerais, Macaé Evaristo, o modelo atual de escola não representa os jovens de hoje. “Eles têm se manifestado nas ruas e nas redes sociais, pela melhoria da educação, em defesa da cidadania e da diversidade. Com isso, estão nos dizendo que é preciso promover mudanças para atender às demandas da contemporaneidade”, diz. Ela argumenta que os gestores públicos precisam se colocar em uma posição de escuta para construir novas estratégias na educação.
Em função disso, a Secretaria de Estado de Educação de Minas (SEEMG) promoveu rodas de conversas em várias regiões do estado, envolvendo cerca de 3 mil pessoas, entre estudantes do Ensino Médio e educadores. Os coletivos juvenis foram também convidados a participar do diálogo com a SEEMG.
 Macaé lembra que uma questão recorrente nessas conversas é a necessidade de a escola se abrir para a participação da juventude, não apenas nos modelos tradicionais – como grêmios estudantis e conselhos escolares – mas também na gestão do currículo e no desenvolvimento de processos de construção do conhecimento. “Os jovens têm nos mostrado que aprendemos na vida, e não só na escola. Temos, então, o desafio de concretizar essa conexão”, diz a secretária.
Um dos resultados das ações da SEEMG foi a reestruturação do Ensino Médio noturno e da Educação de Jovens e Adultos (EJA), com a inserção na grade curricular da disciplina Diversidade, Inclusão e Mundo do Trabalho (DIM). Esse novo conteúdo escolar interage com as quatro áreas de conhecimento (Matemática, Linguagens e Códigos, Ciências da Natureza e Ciências Humanas) e possibilita um diálogo com a realidade vivida pelo estudante.
Na Escola Estadual Imaculada Conceição, na cidade de Pedro Leopoldo, um aluno da EJA, que é confeiteiro, propôs a realização de um projeto sobre doces brasileiros nas aulas de DIM. Para isso, a escola disponibilizou uma sala que passou a ser utilizada como espaço de gastronomia. Conteúdos de Biologia, Química e Matemática foram utilizados para estudo da composição dos alimentos, do custo dos ingredientes e das unidades de medida. Os alunos capricharam na escrita das receitas com clareza e precisão. O grupo envolvido nesse projeto entrevistou doceiros antigos da cidade e pesquisou os doces tradicionais para ampliar os conhecimentos sobre a culinária regional.
Outra medida com bons resultados nas escolas estaduais mineiras foi a mudança do horário das aulas do noturno: o início passou de 18 h para 19 h e o final, de 22h30 para 22h15. Essa medida simples passou a evitar os atrasos do aluno trabalhador e contribuiu para aumentar a frequência às aulas.

Trabalhos coletivos e desafiantes

A Escola Estadual Olegário Maciel fica em um prédio histórico do centro de Belo Horizonte e atende alunos do Ensino Médio. A maioria mora em áreas de vulnerabilidade social da cidade e da região metropolitana. Os jovens circulam pela escola cheios de estilo com piercings, alargadores, bonés, tatuagens e cortes de cabelo criativos. As meninas assumem os cachos e os penteados afro. Na hora do intervalo, a rádio-escola toca os ritmos de que a juventude gosta.
Articulados e questionadores, os alunos do Grêmio Estudantil têm como prioridade as questões LBGT, étnica e a situação da mulher. A turma do Grêmio participa de manifestações nas redes sociais e nas ruas sobre política e movimento estudantil. Além disso, costuma ir à Câmara Municipal de Belo Horizonte e à Assembleia Legislativa de Minas Gerais quando uma pauta de interesse está em discussão.
O diretor Michael Rodrigues conta que a proposta da Olegário Maciel é fazer com que os estudantes sejam protagonistas no processo de construção do conhecimento. Para isso, eles são estimulados a desenvolver projetos interdisciplinares sobre temas próximos à sua realidade. São trabalhos coletivos cheios de desafios e feitos muitas vezes fora dos muros da escola, como no campus da Universidade Federal de Minas Gerais, onde conheceram o Programa Ações Afirmativas, e em outros pontos da cidade que têm relação com os temas pesquisados.
Em 2016, toda a escola foi mobilizada para desenvolver um projeto pautado pela seguinte questão: qual é o espaço do negro em Belo Horizonte e na região metropolitana? As cotas na universidade, a representatividade nos negros na mídia, o preconceito e a discriminação foram alguns dos assuntos nas rodas de conversa realizadas em sala de aula. Organizados em grupos e com a orientação de um professor, os alunos se dedicaram a pesquisar, por exemplo, a capoeira, os duelos de MCs (como são chamadas as competições entre os Mestres de Cerimônia do funk), a religiosidade, a presença de afrodescendentes na E. E. Olegário Maciel e os personagens negros na história do Brasil. Em novembro de 2016, eles apresentaram vídeos gravados com o celular sobre os assuntos pesquisados. Para Gustavo Almeida Lopes, 18 anos, 3º ano, o projeto mostrou que qualquer espaço da sociedade pode e deve ser ocupado pelo negro: “é preciso romper com a ideia de que há lugar [para ele] apenas no esporte e nas artes”.
Em 2017, o projeto é sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos. A supervisora pedagógica Luciana Franca e Gomes explica que o objetivo é fazer com que os jovens vivenciem um projeto de iniciação científica sobre temas definidos por eles, partindo de vários artigos da Declaração. Por exemplo, a qualidade de vida, um dos artigos, será estudada em diferentes aspectos, como os que se referem ao acesso à informação, à energia, ao saneamento básico, entre outros. No fim do ano, haverá a apresentação dos alunos de banners e de painéis, assim como ocorre nos eventos científicos.

Este texto foi publicado na Revista Digital Contemporânea Brasil


Resultado de imagem para Rosangela Guerra*Rosangela Guerra é jornalista graduada pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero (São Paulo, SP). Cria e desenvolve projetos editoriais voltados para professores da Educação Básica, alunos e suas famílias.

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