"Sobre a paixão" - Casimiro de Brito
Sobre a paixão
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Ouço-a falar de paixão. Reza ou fala com o coração? Nunca saberei.
118
A paixão transforma seres “normais” em seres quase imaginários, quase
impossíveis.
262
Que fazer com a paixão quando ela, longe de me fazer pensar, me desfaz em
lágrimas? E já não sei coisa nenhuma — deixo-as inundar-me, amaciar-me.
Rendo-me à dor provocada pela ignorância, tão habituado estou às dores do
conhecimento. Roído pela paixão apodreço mais depressa.
288
Dá-me o teu corpo. Prometo que nele jamais separarei o bálsamo da paixão.
305
A força da paixão aguenta um pouco de rotina mas não muita. Mas poderemos
generalizar? Não poderá haver uma paixão fria, capaz de integrar a rotina? Ou
será de compaixão — sobretudo por nós próprios — que falamos?
2393
Da paixão: o presente envenenado com que os deuses contemplaram os homens. Que
fazer dela, dessa que, pouco a pouco, se transforma numa segunda pele?
3471
Quando ardeste fiquei transformado em cinza.
Casimiro
de Brito
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