JOSÉ DE SOUSA MIGUEL LOPES - Apresentação do livro de poesia "A PAZ, COMO SE FAZ?" de Fernando Rios
A PAZ,
COMO SE FAZ?
fernando rios*
ONZE MENSAGENS POÉTICAS DE ANO
NOVO PARA SEREM VIVIDAS NO DIA A DIA
capitular editora
Apresentação
Pura e
impura, sagrada e maldita, popular e minoritária, coletiva e pessoal, nua e
vestida, falada, pintada, escrita, ostenta todas as faces, embora exista quem
afirme que não tem nenhuma: o poema é uma máscara que oculta o vazio, bela
prova da supérflua grandeza de toda obra humana!
(Octavio Paz. O arco
e a lira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, p. 15).
O século XXI, em que pesem os avanços em
vários ramos do saber, continua marcado, infelizmente, por uma crescente onda
de violência. No Brasil, e de resto em todo o planeta, a sociedade
contemporânea viu caírem por terra muitos valores, como a solidariedade e o
respeito mútuo. Mais do que nunca há um clamor por mudanças, mesmo que ele não
se faça audível. Para onde caminhamos, se não houver uma reversão da
intolerância e violência instaladas em nosso cotidiano? Não podemos
simplesmente fechar os olhos e seguir submissos rumo à barbárie. Há que se
construir uma cultura de paz!
É nesse sentido que, na última década, com
suas Dez Mensagens de Ano Novo, Fernando Rios nos vem chamando a atenção
utilizando a arma da poesia. Seu labor poético revela-nos que não se pode
pensar que esse desafio seja um sonho ou que o autor esteja propondo construir
a utopia ingênua. Pelo contrário, acredita, e com ele partilhamos esta crença,
que a poesia, porém pensante e comprometida, pode contribuir para mudar o
mundo.
O fio condutor de sua digressão poética é a
PAZ. Palavra já próxima da caricatura, porque tão sistematicamente pronunciada.
Palavra, quase à beira do desgaste, mas com tão pouco efetividade prática. Não
bastam, então, belas e generosas intenções. É preciso operacionalizar essa palavra.
Torná-la poeticamente um guia para a ação. Diz-nos o autor: Mais do que
simplesmente pensar/, é hora de agir (p.11).
Mas A PAZ COMO SE FAZ? A pergunta que dá
título ao livro, de imediato, coloca o leitor em estado de alerta. É um
questionamento perturbador, pois parece exigir do leitor a tarefa impossível.
Na verdade o poeta está-nos instigando a que jamais ignoremos a força
construtiva dos pequenos prazeres cotidianos, das coisas mais simples da vida,
por vezes esquecidas no fundo de um armário, escondidas por pilhas de saberes e
de fazeres desnecessários para um mundo melhor. Talvez o sonho de uma Cultura
de Paz esteja muito próximo de nós, repousando na natureza essencialmente
generosa e criativa do ser humano, que simplesmente anseia por uma pausa, um
espaço de acolhimento, de expressão e de partilha. É aqui que entra em ação a
força poética de Fernando Rios. Não é ofício do poeta narrar o que aconteceu;
é, sim, o de representar o que poderia acontecer, quer dizer: o que é possível
segundo a verossimilhança e a necessidade. Com efeito, não diferem o
historiador e o poeta por escreverem verso ou prosa (pois que bem poderiam ser
postos em versos as obras de Heródoto, e nem por isso deixariam de ser
história, se fossem em verso o que eram em prosa) - diferem, sim, em que diz um
as coisas que sucederam, e outro as que poderiam suceder.
O maior esforço, a mais alta
tentativa de transpor o que se sente, não é de grande serventia. Por isso a
arte poética é árdua, propõe dificuldades, dores, obstáculos, impedimentos. E é
justamente por causa das tais complexidades impostas pelo processo de
construção de um poema que essa arte tanto encanta e fascina. O raciocínio está
a mil, buscando saídas para os impedimentos, para o ritmo que se pretende
imprimir ao poema.
Devido à extrema complexidade da civilização
atual e suas condições sociais e culturais inteiramente inéditas, as produções
artísticas só poderão sobreviver enquanto inventivas, originais e abertas —
inseridas no contexto da época. Uma vez ultrapassada a fase de pura
experimentação que destrói gêneros tradicionais e qualidades artísticas
consagradas, deverá ocorrer a integração destas manifestações inventivas no
complexo social que as envolve. Por isso, a poesia de Fernando Rios, por sua
inventividade, originalidade e abertura reúne todas as condições de
sobrevivência, não apenas porque contextualizada primorosamente, mas porque
sinaliza a perenidade da grande arte.
O poeta se apresenta aqui
como o sujeito que abraça sem pudor a impossibilidade, o lamento das perdas, do
luto, envolvido que está, não como sujeito do suposto saber, resolvido,
asséptico, impermeável, mas na condição de vivente tomado pelos fragmentos das
realidades real e virtual que o reciclam e por ele são reciclados.
A relação do poeta Fernando
Rios com o mundo é predominantemente mediada por uma reflexão sobre a própria
poesia: as suas formas, a sua história, os seus limites e ambições, as suas
implicações na visão do mundo e na relação com a vida.
O autor constrói uma
“conversa” poética em que, como é de esperar, são os meandros da poesia que
estão em jogo. E, na verdade, é de um jogo que aqui se trata, em que a poesia é
“a mais inocente das ocupações”.
Sua poesia é daquelas que
ultrapassam a introspecção e restabelecem o contato entre a arte e a vida. Com
o poeta, deixamo-nos arrastar pelo ímpeto da violência e reencontramos a mesma
angústia e a mesma esperança, o sentimento agudo da miséria humana e o grande
apelo à fraternidade num mundo em que se desencadeiam surpreendentes
barbarismos no oriente médio,/hoje tão
pequeno,/com toda sua grande,/imensa euforia,/patrocinada pelo ocidente,/coisa
de quem arranca da terra/sua carta de alforria/e derrete os pólos,/em estúpida
guerra fria?/na áfrica chamada negra/cada vez mais alquebrando-se,/dominada/pela
norte hemisférica brancura,/a esperar nada em agonia? (p.24).
Generosa e tensa, a poesia
de Fernando Rios é o espelho de um devir, que, como esperança, se apoderasse da
sua vida [...] uma tensão criadora de ressonâncias musicais e de expectativa [...]
uma programação e uma transferência ou transporte da vida para a poesia e da
poesia para a vida. Que a luz da
verdadeira humanidade/presente em cada um de nós, nos permita/colocar o outro
em nosso palco e iluminá-lo,/para que possamos, juntos, não apenas/representar,
mas viver, dançar e cantar o/espetáculo da vida (p.12). E mais à frente: e diante do sol, que
soleia,/e diante da lua, que luneia,/onde pôr a humanidade,/aquela que dizemos
de nós,/humanos animais,/cheios de virtudes/e pontos cardeais? (p.24).
Como não ficar seduzido
pelo criativo jogo de palavras de Fernando Rios? Ouçamo-lo: palavra
bala palavra/bala palavra bala/mão palavra mão/palavra mão palavra (p.57).
Mas atenção, Fernando Rios não faz apenas da palavra uma diversão linguística.
Ele dá à palavra uma importante serventia. Alguém duvida de que a palavra é
arma, mesmo quando cala? Para dissipar a dúvida, o poeta alerta: cuidado! a
palavra fala!/foi feita para isso./mas muitas vezes a palavra cala/e então pode
soar muito mais/do que quando fala (p.5-6).
Como se sabe não existe uma forma de ler
poesia, mas várias, que coexistem, entram em conflito e convergência, vivem,
disseminam-se e desaparecem. Também não é possível afirmar a existência uma
postura única face à poesia no decurso da história. Em certos momentos, por
razões de vária ordem, certas propriedades tornam-se particularmente evidentes,
enquanto outras são preteridas para a sombra. Mas qual a finalidade da poesia?
Diria, sem receio do excesso, e referendando Fernando Rios, que é a de tornar
habitável o inabitável, respirável o irrespirável. Matamo-nos ao invés de
vivermo-nos/Cabe a cada um de nós substituir o gesto-/arma pelo gesto-afeto,/o
gesto-agressão/pelo gesto-carinho (p.10). assim se constrói uma paz/de
dentro para fora/como se fora o aberto corpo/uma gaiola/ao contrário (p.39).
o que fazeis desse presente todo/desembrulhado. de que passado viestes, pra/que
horizonte vossos olhos brilham? (p.45).
Fernando acaricia as
palavras, num jogo erótico surpreendente: que asa/qual pensamento/que corda/qual braço abraço/que
calor/qual corpo coito/que olho/qual veludo olhar/que gesto/qual desenho
gestar/que cio/qual balbucio ceia/que palavra/qual lavra semente (p.28).
Porque a verdadeira Poesia faz-se contra a
Poesia da época precedente, não certamente por ódio, embora por vezes
ingenuamente dê essa aparência, mas porque é chamada a mostrar a sua dupla
tendência, que é em primeiro lugar trazer o fogo, o impulso novo, a nova tomada
da consciência da época, e em segundo lugar libertar o homem de uma atmosfera
envelhecida, gasta, viciada. O papel do poeta consiste em ser o primeiro a
senti-la, a descobrir uma janela para abrir ou, mais exatamente, em abrir um
abcesso do subconsciente. E Fernando Rios caminha nessa trilha.
No início o poeta está sozinho, parte sozinho
à descoberta. A sua verdadeira ação social vem mais tarde, quando a humanidade
quase sem ele querer o incorpora. Esta incorporação faz-se de forma tão natural
que muitas vezes imaginamos retrospectivamente, com algum simplismo, que o
poeta deu o tom à época precedente. Assim se torna eternamente atual o poeta
que teve a coragem de não o ser demasiado cedo.
Afirmou Goethe que a contabilidade é uma das
mais belas invenções da mente humana e todo o bom empresário a devia introduzir
na sua administração. Fernando Rios, um bom gestor da sua própria
multiplicidade, seguiu-lhe o conselho. Com efeito, enquanto técnica de registos
que procura captar, acumular (ou reunir), resumir e interpretar, ela funciona
como um meio de controle de um “eu” que permanentemente se desdobra,
projetando-se no espelho da ficção poética, num misto de dor e satisfação
criadora.
Num diversificado exercício da imaginação, a
escrita do poeta não se inibe diante das fronteiras do lógico ou do racional e,
por vezes, parece afastar-se daquele que escreve e desenha figuras que escapam
à lógica governada por certos códigos, como se a criatura se sobrepusesse ao eu
criador.
Numa expressão digressiva, influenciada pela
própria condição deambulante (ou errante) do poeta, sempre atento ao quotidiano
e ao mundo, vistos com distanciada ironia, Fernando Rios deixa respirar o amplo
fôlego da sua voz poética e, numa flutuação rítmica própria do diálogo (um
diálogo tenso e denso do poeta consigo mesmo e com o leitor), vai puxando o fio
do lembrar para construir a teia do poema. Numa livre circulação de assuntos
onde reverberam afeto e política, estes se constituem como temas maiores da sua
poesia, conjugando-se de forma harmoniosa.
Tudo se articula, na verdade, para que o ato
de escrita seja um ato de duração intensa, a produzir as suas marcas
discursivas. Num tempo em que se escreve para o êxito, em que a sofreguidão do
novo é um apanágio do mercado, o poeta, indiferente às leis desse deus
neoliberal, subtrai a sua escrita à marcha do mundo capitalista. Fica uma ética
da escrita (e da poesia), a reiterada insistência nela, para além da dispersão,
da loucura, da incompreensão, que são o preço a pagar quando se anda a procura
de um final feliz.
Aceitemos como premissa maior que o poeta é
um leitor de outras escritas – antigas e modernas, literárias e quotidianamente
prosaicas –, um fruidor de outras artes, dando, deste modo, voz ao seu
entendimento do outro, seja ele o filósofo, o ator, o pintor, o escritor ou
mesmo a personagem mitológica, trágica, que são também e, sobretudo, busca de
entendimento de si próprio. Essa fruição de outras artes é visível em vários
momentos de sua viagem poética. Penetrando em suas raízes, o poeta recorre à
música, à festa brasileira, à mais genuína alegria trazida pelo samba: e com
essa batucada e essa comissão de frente,/a gente põe nossa escola de bambas/pra
cantar, dançar e realizar nosso samba.(p. 49). Em outro momento não
hesita em prolongar a musicalidade orgiástica transformando sons em ourivesaria
poética: e o que se ouve?/explode o tímpano/ou embala a alma?/porque se
engravida pelo ouvido/com bach ou tom Jobim/com beethoven, eric satie e villa
lobos/com miles davis, john coltrane, beatles ou rolling stones/com paulinho da
viola, cartola, caetano e gil/e com as letras derramadas,
esparramadas/emocionadas de um francisco Buarque/ou a voz mágica de um
nascimento Milton/e quantas coisas/transbordam os ouvidos de vida (p.5)
Ou então adentra
o universo pictórico para nos fazer navegar na brisa suave que percorre a
paisagem: e se embalar e se manejar/chagalmente klimtement/barcos
corpos velas ventos árvores/asas sopros ondas voos/envoltos palavrosamente em
dicionários/cuidadosamente em palavras ímãs (p.58). Ou quando recorre ao seu colega de letras para nos dizer que
assumamos as nossas responsabilidades: e como diria o lêmure
leminsky, humorista/pendurado na árvore do conhecimento/parece que agora é com
a gente/humana e divinamente (p.78).
Constata-se um procedimento muito forte na
poesia do autor: o ato de se voltar para si mesmo, ou, e servindo-me de uma
expressão que a imagem autoriza, para a própria engrenagem poética –
meditando-se, inquirindo-se, sondando-se, envolvendo o leitor num exercício de
lúcida reflexão que revela uma forte consciência dos mecanismos implicados nos
processos de significação em poesia, com as suas práticas verbais, métodos,
processos e recursos, das suas próprias contradições.
A pergunta que parece fazer mover esta
escrita é a que atrai Fernando Rios para a página em branco: “A paz como se
faz” – o Livro, irrecusável e inadiável resposta a esse apelo, a exigir uma
disponibilidade absoluta, uma entrega total ao ato da criação poética, a
conduzir como que a uma anulação da própria consciência e cuja intensidade pode
ser lida, ou sentida, na respiração nervosa do poema. Estamos na presença de
uma “arte de ser” (“eu sou o que escrevo”) radicada na inevitabilidade do dizer
e do fazer poéticos. A quem percorre o conjunto dos poemas de Fernando Rios,
não lhe é difícil verificar que a escrita é para o autor algo próximo de uma
compulsão, uma imposição vocacional inelutável. Como se proclamasse em praça
pública: “Não encontro paz se não apaziguar em mim essa febre, que furiosamente
me impele para a escrita”. Esta pulsão (também a acionar os movimentos que
definem a sua poética: o enigma do Humano, a trajetória pessoal de um “eu”
fragmentado), traduz-se numa especial energia da linguagem verbal.
Atento às
contradições mostra-nos o conflito daquele que mata e que também pode afagar: porque
bala e mão/fora do dicionário/tanto multiplicam vítimas e mortos e
feridos/quanto procriam aliados e amados e queridos (p.53/54).
Com dedo acusador e utilizando uma fina ironia, o poeta se interroga
sobre o primordial ato criador e nos coloca face à perplexidade e à embaraçosa
pergunta que sutilmente se esconde: o que deu errado? com que barro/com
quais mãos/foi feito adão? que mãos eram aquelas?/já naquele tempo/havia
poluição?/que parte do barro/saiu enviesada/e pôs a criatura na contramão?/que
mãos divinas/deram /ou /às formas que michelangelo recriou? (p.72). Que ser
contraditório é este que conjuga surpreendentemente o bem e o mal? os
filósofos gregos nos fizeram assim/ocidentais, cheios de sabedoria e
justiça./os deuses gregos, porém, nos fizeram/assado, acidentais, cheios de
ódio e rancor./e desejosos de vingança (p. 98). E vai ao seu ser mais
profundo: quantas guerras eu declaro por minuto, seja/dentro de mim, seja
para fora, a qualquer/hora, uma palavra-lança, um gesto bruto (p.103).
E, incrédulo, se interroga por que tão poucos líderes exemplares e
tantos que emplumados de vaidade enveredaram pelo caminho da barbárie? e por que tão poucos
mandelas e ghandis/tantos alexandres grandes, césares,/napoleões, mussolinis,
hitleres, stalins/e seus rabos de pavões? (p.74). Devastadoramente
corrosivo o poeta não poupa esses que nos comandam: que deuses e profetas
são esses/que entre embustes e pantomimas/olham o mundo pegar fogo/e alimentam
o dia a dia com fósforo e/gasolina (p.75). E de forma explosiva e pertinente o poeta acusa: nossos deuses
têm preferido a guerra/para provar sua bondade/para falar sua verdade/uma
verdade divina/mortiferamente divina. E deixa um recado: precisaremos de
muita terra e água/para criarmos um novo e bom barro/negro, branco, vermelho,
amarelo, colorido/e com ele/moldarmos/de uma só vez/homens e mulheres/que sejam
maiores/e mais poderosos/do que a língua inócua/dos livros falsos sagrados/dos
sacerdotes farsantes pastores (p.77).
E porque
não “olhamos” para nossa fala, porque não medimos as palavras, se elas
frequentemente se voltam contra nós próprios, desnudando-nos? que palavra é
essa/que quando me dou conta/bumeranguemente/me expõe ao vazio/entranhamente
vazio (p.86).
O poeta não
quer se deleitar em palavras inócuas, sem serventia. Ele quer dizer do uso
direto da palavra, sem reticências: quero usar na minha fala/isto sim e
sempre/ao invés de intrépidos e dolorosos/suaves, simples e claros argumentos (p.88/89).
E nos convida, sem sutilezas, ao que vem: vamos juntar letras areias e
barros/e criar palavras tijolos e paredes/e construir novas moradas/para
cabermos todos inteiros/nos nossos todos momentos (p. 91).
Na sua
digressão Fernando Rios está atento à inteireza do ser, que se afirma como tal,
através do quinteto dos sentidos: para o tato, nem forte nem fraco/sempre
leve, suave contato/para o olhar, nem pergunta nem resposta/sempre um cálido
suave raio de som marinho/para o olfato, nem miasma nem fragrância/sempre uma
rosa em ventania/para o ouvir, nem ruído nem sinfonia/sempre um gesto som de
alegria/para o paladar, nem salgado nem doce nem azedo/sempre algum sabor de
segredo (p.7)
E de forma contundente nos interroga: quem vai contar essa história/de judeus,
negros, árabes,/índios, mulheres, gays./todos refugiados/dessa imensa /dessa
insanidade humana (p. 113).
Entre o silêncio e o grito, uma dialética
cujo poder de atração se exercerá sempre sobre o autor, o poeta, recusando
entregar-se ao desânimo.
Mas o que confere à poesia de Fernando Rios o
seu tom inconfundível é a consciência de um fazer poético que cumpre até ao fim
um desígnio que livremente se aceita. Parece querer dizer-nos “Sou eu que
escrevo por mim até ao colapso final”.
Se a “máquina da escrita”, não saciada, se
converter porventura num instrumento de aniquilação do seu próprio construtor,
o leitor pode sempre procurar este poeta em locais de refúgio em que é
justamente forçado à afirmação do “eu”. Ao refugiar-se nesta poesia o leitor
encontrará um instrumento insubstituível para fazer a paz!
José de Sousa Miguel Lopes
Belo Horizonte, 28/12/2016
*Fernando
Rios é jornalista,
publicitário, antropólogo, poeta e artista plástico. Publicou seu livro “PAZ, COMO SE FAZ?” em São Paulo pela
Editora Capitular em março de 2017 (142 páginas).
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