Por que tem sido tão difícil mudar as polícias?
A morte de um jovem negro e
pobre, numa periferia brasileira: mais um traço no catálogo da violência
policial. Outra vida sepultada sob as patas do Estado. Já não importam palavras
e números, curvas e tabelas. Os dados quantificam a tragédia e a diluem. Neutralizam
a brutalidade dos processos reais. Convertem a experiência radicalmente
singular em mais um caso particular pelo qual o universal se manifesta,
encapsulado no conceito. Os conceitos servem ao esclarecimento por meio de
categorias equivalentes a outras, permutáveis, moedas de troca cognitivas. O
conhecimento é indispensável, mas não abole a dor nem conjura os mistérios da
alma humana. A morte de uma pessoa, como sua vida, não é permutável por outra,
e nisso reside sua dignidade, fonte dos direitos humanos. O sofrimento é desvão
inexpugnável, abismo da linguagem que devora a comunicabilidade. Treva sem
fundo, tensionamento refratário à redenção dialética, solidão irremediável.
Sobretudo ante situações limite, lutar com palavras é uma luta vã, no entanto
lutamos, mal nasce a manhã – dizia Drummond. Por isso este artigo, este grito,
de novo, este mantra desidratado.
Para ler o texto completo de Luiz Eduardo Soares clique aqui
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