Em defesa do ceticismo filosófico
Em defesa do ceticismo filosófico
Paulo Franco
02/07/2015
No seu documentário sobre religião, “Religulous”, Bill Mayer
defende a importância de duvidar, de ser cético. Não será difícil perceber quão
genial é esta observação se fizermos um estudo estatístico da quantidade de
mortes que acontecem quase todos os dias devido à ação tresloucada de
indivíduos cheios de convicções indestrutíveis.
Dificilmente alguém pensaria em decapitar a cabeça a uma pessoa
com convicções diferentes das suas se, qual golpe de lucidez, decidisse duvidar
da moralidade e veracidade de certos versículos do Alcorão.
Dificilmente alguém pensaria em assassinar uma pessoa numa
fogueira, queimando-a viva, se decidisse duvidar da veracidade e moralidade de
determinados excertos bíblicos.
Jamais um jovem aceitaria colocar um cinto cheio de bombas à
volta da cintura com o intuito de se fazer rebentar juntamente com outras
pessoas se, por sorte ou sabedoria, decidisse duvidar da veracidade da vida
depois da morte; ou decidisse duvidar da moralidade de poder vir a ter direito
a usufruir sexualmente de 72 virgens no paraíso como prêmio de assassinar 20
infiéis.
Numa forma de religiosidade mais prosaica e menos radical,
também podemos afirmar que jamais alguém prestaria homenagem ou sentiria amor e
devoção por uma qualquer entidade divina que fosse declaradamente machista,
homofóbico, apoiante fanático da pena de morte ou totalmente intolerante em
relação à liberdade de pensar, se porventura optasse por aderir aos melhores
valores do humanismo.
Dentro da mesma linha de bem pensar, também jamais alguém
ousaria rezar/rogar/implorar a um qualquer Deus, pedindo-Lhe ajuda para
ultrapassar uma qualquer dificuldade banal sabendo que esse Deus deveria antes
dar prioridade a salvar as mais de 20 000 crianças que morrem todos os dias no
mundo.
Mas infelizmente o mundo não é composto apenas por pessoas
mentalmente saudáveis.
O mundo está cheio de pessoas que não acreditam no Pai Natal
porque acham improvável que alguém possa distribuir milhões de presentes numa
só noite mas, incrivelmente, acreditam que existe um Ser que consegue prestar
atenção às rezas sussurrantes de biliões de pessoas.
O melhor é duvidar.
O melhor é duvidar de quem afirma que o Amor mais puro vem de um
Ser que criou um lugar infernal para castigar quem lhe é desobediente ou,
simplesmente, indiferente.
O contrário do ceticismo é o dogmatismo. Seria viável alguém,
preocupado em descobrir verdades sobre o mundo, ter uma atitude dogmática?
Todos os cientistas e todos os homens que procuram Grandes
Verdades sobre as nossas origens, sobre a verdadeira essência do ser humano e
sobre a natureza e modo de funcionar o universo tem, obrigatoriamente, de ser
cético. Não há possibilidade de questionamento sem colocar tudo em causa.
” Eu sou um cético profissional. Vivemos num mundo de mentiras
sistemáticas”. José Saramago.
“O ceticismo é a essência da inteligência” Vítor Hugo.
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