segunda-feira, 7 de novembro de 2011

“A invenção do amor” – Daniel Filipe


Em 1925 nasceu Daniel Damásio Ascensão Filipe na ilha da Boavista, em Cabo Verde. Ainda criança, veio para Portugal onde fez os estudos liceais. Poeta, foi colaborador nas revistas Seara Nova e Távola Redonda, entre outras publicações literárias. Combateu a ditadura salazarista, sendo perseguido e torturado pela PIDE. Num curto espaço de tempo, a sua poesia evoluiu desde a temática africana aos valores neorrealistas e a um intimismo original que versa o indivíduo e a cidade, o amor e a solidão. Faleceu em 1964 em Cabo Verde.

A "Invenção do Amor" conta a perseguição movida pela cidade contra dois infratores da ordem e da rotina, dois amantes que, pelo simples fato de se amarem, colocam "em jogo a cidade/o país, a civilização do ocidente". O perigo de contaminação pelo amor reside na capacidade que o amor possui de desencadear a reflexão e a conscientização sobre a condição humana ("Se um homem de repente interromper as pesquisas/e perguntar quem é e o que faz ali de armas na mão/já sabeis o que tendes a fazer Matai-o Amigo irmão que seja"), de promover a descoberta de uma existência movida por valores essenciais: "Alguém que os escutou/deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas/E quando foi interrogado em tribunal de Guerra /respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz/Lhe lembravam a infância/Campos verdes floridos/Água simples correndo/A brisa das montanhas." A poesia de "A Invenção do Amor" é, assim, "inevitavelmente retórica, porque não existe na cidade a experiência autêntica do amor que Daniel Filipe se obriga a inventar. E então há que forçar a entoação das palavras, enfatizá-las, repeti-las, numa tentativa de violentar o real e impor nele o projeto do poeta." (ESPADINHA, Francisco - "Nota sobre A Invenção do Amor", in A Invenção do Amor e Outros Poemas, 6.a ed., Lisboa, 1983, p. 14). As duas composições também coligidas neste volume, evocando, em epígrafe, Guillén e Carlos Drummond de Andrade, retomam a temática do amor-libertação, da concepção do amor como instrumento de combate que une o sujeito poético a uma companheira com quem travará uma luta pela humanização da cidade hostil, até que ela se converta em "cidade prometida": "Pelos meninos tristes suburbanos/contra o peso da angústia contra o medo/contra a seta do fogo traiçoeira cravada/em nosso doce coração aberto/lutaremos meu Amor".

O longo poema pode ser lido aqui

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