"Amor é música"- Casimiro de Brito
Amor é música
3121
Música pura e louca, o amor. Umas vezes uma
elegante sonata, outras vezes uma sinfonia radical.
3196
Tão cerrados estivemos que nenhum de nós sabia distinguir a música de um
coração da música do outro. O mesmo sopro e, no mesmo andamento, o caos do
sangue.
3239
Um corpo de fábula. Um rio de duas cabeças. Música interior. Quando nos amamos.
3346
Tão colados estávamos um ao outro — tão fundidos — que não sentíamos nada, ou
um nada que é tudo: a música uníssona de todos os nossos sentidos e de mais um,
comum aos dois, a gratidão.
3444
Tanta música a que tenho para ouvir — mas se te tivesse comigo era no teu corpo
que eu plantava o meu ouvido, o meu corpo, que todo ele seria ouvido.
3445
O amor, a arte de amar, é uma ópera íntima. Que tudo entra na arte de amar: o
canto (o ruído dos dois corpos, a sua música inovadora), a poesia (corporal,
improvisada), a dança (ora pantomímica, ora romântica), a emoção, a escultura
ao vivo, a pintura (a mudança subtil da cor dos corpos, o concerto dos seus
líquidos mais ou menos coloridos), enfim, o derrame dos corpos um no outro, ora
caindo, ora elevando-se e sempre, mas sempre, renovando-se. E penso também na
caça e na gastronomia! Outro amor não conheço ou não merece esse nome. Se a
ópera é a arte absoluta o amor é a ascensão do ser humano à sua absoluta
harmonia, venha ela das fundas terras ou dos altos céus.
3459
Amemo-nos sem medo nem limite. Assim. A regra primeiro do amor é a sua
imperfeição.
3480
Ah como são pouco, tão poucos, todos os beijos do mundo.
Casimiro de Brito
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