"A árvore onde estivemos" - Adão Cruz
A árvore onde
estivemos
Está seca e
nua a árvore onde estivemos,
nem verde
botão de primeira folha
nem rebentos de céu dentro de nós.
Naquela tarde de palavras e raízes da árvore que nos viveu
quis o rio
nascer nos braços do estuário,
quis a terra
ser o leito onde a infância adormeceu.
Está seca e nua a árvore onde estivemos
no calor dos
lábios da ilusão,
não tem
folhas de primavera nem frutos de verão
nem brisas
inocentes tremulando por entre os ramos.
Tem restos de poemas secos
pendurados
nos braços negros
e versos
apodrecidos pelo chão
e vozes mudas
que ligam a
noite às folhas mortas de solidão.
Está seca e nua a árvore onde estivemos,
crestada pela
geada e pelo frio
de ser tão
fria a madrugada.
No silêncio da utopia e na triste melancolia,
a árvore onde
estivemos secou
e com ela a
poesia.
Adão Cruz
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