Coração Polar
Não sei de que cor
são os navios
quando naufragam no meio dos teus
braços
sei que há um corpo nunca
encontrado algures
e que esse corpo vivo é o teu
corpo imaterial
a tua promessa nos mastros de
todos os veleiros
a ilha perfumada das tuas pernas
o teu ventre de conchas e corais
a gruta onde me esperas
com teus lábios de espuma e de
salsugem
os teus naufrágios
e a grande equação do vento e da
viagem
onde o acaso floresce com seus
espelhos
seus indícios de rosa e
descoberta.
Não sei de que cor é essa linha
onde se cruza a lua e a mastreação
mas sei que em cada rua há uma
esquina
uma abertura entre a rotina e a
maravilha
há uma hora de fogo para o azul
a hora em que te encontro e não
te encontro
há um ângulo ao contrário
uma geometria mágica onde tudo
pode ser possível
há um mar imaginário aberto em
cada página
não me venham dizer que nunca mais
as rotas nascem do desejo
e eu quero o cruzeiro do sul das
tuas mãos
quero o teu nome escrito nas marés
nesta cidade onde no sítio mais
absurdo
num sentido proibido ou num
semáforo
todos os poentes me dizem quem tu
és.
Manuel Alegre