"Lágrimas trágicas de Cabo Delgado" - Gonçalo Ferrão
Lágrimas trágicas de Cabo Delgado
O luto,
Não é esse
pedaço de pano que amordaça o teu corpo dorido.
Nem as missangas, o cabelo rapado, que enfeita o sonho do passo tolhido
Ou ainda os
comunitários sinais de perda de ente-querido,
Na solidão da
dor que acompanha teu choro incontido.
É mais essa dor aguda no teu peito
com cor de desgraça
no pensamento
que faz chorar a
alma, sem jeito;
É essa dor que o
tamanho vazio abraça
da ausência
amiga de sua presença,
E faz sangrar o
desespero nos teus olhos molhados
Pela inevitável
antecipada partida dela, sem volta aos teus olhos.
É esse
termómetro enlouquecido da mente,
que mede errado
o valor da ausência do abraço dela,
E te faz sentir
a toda a hora, tão confusamente,
que ficar
sozinho, é mesmo igual a ficar sem ela,
Nessa caminhada
ora sem norte,
Sem a luz e o
calor do convívio dela.
Não, não meu
amigo
Tal como ninguém se habitua ao sofrimento
O luto nunca
será um indivíduo anónimo
Curtidor de
causa alheia no destino
Fim
Gonçalo Ferrão
Maputo, Moçambique, 28/05/21