No dia 10 de julho de 2025 teve lugar em Cachoeiro de Itapimirim o Evento "Versos & canções: O Som do poema". A idealizaçao e a direção geral do projeto foi da responsabilidade de Therezinha Fassarela e Adilson Dilem.
Texto de apresentação: Roberto de Oliveira
Desde os primórdios, poesia e música caminham de mãos dadas. Antes mesmo de se fixar no papel, o poema era som — canto entoado em rituais, lamento em forma de melodia, celebração em ritmo e palavra. A voz do poeta foi, desde sempre, também a voz do músico. A métrica, o compasso, a pausa — são pulsações partilhadas por essas duas artes irmãs.
Mallarmé, o poeta da sugestão e do mistério, afirmou certa vez: "A música antes de tudo." E ele sabia o que dizia. Porque todo poema guarda dentro de si uma partitura secreta, uma cadência que convida o leitor — ou o ouvinte — a mergulhar em sua musicalidade interna. A poesia, quando lida com o ouvido atento, revela-se canção. E a canção, quando ouvida com sensibilidade, revela-se poema.
Este projeto nasce desse entrelaçamento. "Versos & Canções: o som do poema" propõe um passeio por essa zona de encontro entre verso e melodia, palavra e acorde. Aqui, lemos e declamamos poesias como se fossem canções e cantamos poemas que foram musicados por vários compositores. Assim, tudo se mistura, se entrelaça, se reencontra.
Porque, como escreveu Sérgio Sampaio, nosso conterrâneo de alma sensível: "Um livro de poesia na gaveta / não adianta nada / lugar de poesia é na calçada."
E é justamente isso que desejamos: tirar a poesia da gaveta, trazê-la ao corpo vivo da voz, do gesto, do som — levá-la à calçada, ao palco, ao coração de quem ouve.
Sejam bem-vindos. A apresentação vai começar. Deixem que as palavras cantem.
O autor do blog sente-se muito honrado por ter sido incluído no evento. Seu poema "Procura-se a poesia"* foi lido por Roberto de Oliveira e Ana Cristina.
Procura-se a poesia
Não há poesia na bomba que explode
Na bomba que extermina
Na bomba que destrói e arrasa
Na bomba que indiscriminadamente aniquila.
Não há poesia na bomba.
Não há poesia na bala
Na bala que trespassa o corpo
No corpo que recebe a bala
No corpo que se contorce em dor.
Não há poesia na bala.
Não há poesia na morte
Na morte que trucida os corpos
Na morte que os violenta
Na morte que os viola.
Não há poesia na morte.
Não me falem de guerras de democratização
Uns olhos de um homem morto
São uns olhos mortos.
Quem defende a guerra que me apresente
Um morto livre
Um morto democrata
Um morto com causas
Um morto com religião.
Não há poesia na guerra.
Há morte, crueldade, caos, brutalidade
Extermínio, sangue, vazio e destruição...
E o silêncio.
A ausência.
José de Sousa Miguel Lopes