Adaptação decente e atual, 'Chatô' é acontecimento do nosso cinema
Adaptação decente
e atual, 'Chatô' é acontecimento do nosso cinema
INÁCIO
ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA - 12/11/2015
Eis, enfim, um filme de fato
histórico, disse Rafael de Luna, professor da UFRJ. E, com efeito, "Chatô,
o Rei do Brasil" não é apenas sobre um personagem ou um momento da
história do Brasil. É também um acontecimento da história do nosso cinema.
Entre seu anúncio inicial e seu lançamento transcorreram uns 20 anos.
Esses 20 anos foram de dúvidas,
acusações de irresponsabilidade, megalomania, roubo. Mais do que isso, para um
trabalho tão truncado, podia-se esperar o pior.
Pois aí é que está a surpresa.
"Chatô" pode ter mais um sentido histórico, embora menos relevante: é
a primeira vez que se faz, de um livro de Fernando Morais, uma adaptação
decente.
E Assis Chateaubriand não é um
personagem dos mais fáceis. Esse Cidadão Kane à brasileira ocupa um período
histórico amplo: nele cabem a Revolução de 1930 e o golpe militar de 1964, a
imprensa, a TV, o rádio.
E, nisso tudo, Chateaubriand entra
com uma personalidade particular (como um jagunço sofisticado), como sintoma e
efeito do atraso brasileiro, como visionário e chantagista, como um tipo
dionisíaco.
Ao mesmo tempo era alguém que não
perdeu, nem por um segundo, e da pior maneira possível, a percepção do
jornalismo como modo de manipulação a ser exercido da pior maneira possível
—como poder pessoal a serviço de projetos pessoais. E, no entanto, esses
projetos não raro coincidiam com o que de melhor podia ser feito para o país (o
Masp, por exemplo).
Como sintetizar a trajetória desse
homem de muitas vidas não era fácil, Guilherme Fontes encontrou um modo eficaz
e moderno de fazê-lo: suprimindo a cronologia em favor do modo de ação.
Isto é, conhecemos Chateaubriand não
pela sequência dos acontecimentos em que se envolveu, mas pela natureza de suas
ideias —as melhores e as piores.
Se, por um lado, Fontes conseguiu
dar conta desse personagem complexo, teve ainda a gentileza de nos libertar do
tipo de narrativa histórica lamentavelmente quadrada a que nos tem condenado
habitualmente o cinema brasileiro. E, apesar de todos os tropeços, criou um
filme bem atual.
DIREÇÃO Guilherme Fontes
ELENCO Marco Ricca, Andréa
Beltrão, Paulo Betti
PRODUÇÃO Brasil, 2015, 14
anos
QUANDO estreia prevista
para 19/11; data não confirmada.
FONTE: Aqui
0 comentários:
Postar um comentário