"Interlúdio" - Aurelio Arturo
Interlúdio
Na cama pela manhã sonhando acordado,
através das horas do dia, ouro ou névoa,
errante pela cidade ou perante a mesa de trabalho,
ou de meus pensamentos em reverente curva?
Ouvindo-te de longe, ainda de extremo a extremo,
ouvindo-te como uma chuva invisível, uma geada.
Sentindo-se nas tuas últimas palavras, alta,
sempre no fundo dos meus atos, dos meus signos cordiais
dos meus gestos, meus silêncios, minhas palavras e pausas.
Através das horas do dia, da noite
- a noite avara pagando o dia cêntimo a cêntimo -
nos dias que um após o outro são vida, a vida
com as tuas palavras, alta as tuas palavras, cheias de orvalho,
ó tu que recolhes na tua mão a planura de borboletas.
Na cama pela manhã através das horas,
melodia, quase uma luz que nunca é súbita,
com o teu ademane gentil, com a tua graça amorosa,
ó tu que recolhes nos teus ombros um céu de pombas.
Aurelio Arturo
(Colômbia 1906-1974)
0 comentários:
Postar um comentário