sexta-feira, 5 de agosto de 2022

"Mulher para marido" - Fleur Adcock

 




Mulher para marido

 

 

 



Da ira para o poço do sono


Deslizas de repente. A calma


Cai em mim gradualmente, um nevão


Suave, uma capa leve para atordoar


Os nervos arrepanhados, durante algum tempo.



 

A tua cabeça na almofada virada para o outro lado;


A minha cara escondida. Mas debaixo da neve


Rebentos endireitam-se, o filamento verde


Ergue-se instintivamente. Não se duvide


Dessa virtude de determinação na carne insciente:


Entre os nossos corpos uma tepidez cresce;


As mãos mexem-se debaixo dos cobertores,


As tuas costas tocam o meu peito, as nossas coxas


Rodam para encontrar o lugar que conhecem.


A tua boca move-se sobre a minha cara:


Ousaremos, agora, abrir os olhos?

 

 

 



Fleur Adcock

 


(Nova Zelândia, Auckland 1934)


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