domingo, 26 de setembro de 2021

"Imaginem" - José Paulo Pinto Lobo

 




Imaginem




Imaginem




Uma caverna mais profunda que a de Platão. Com prisioneiros igualmente acorrentados. Sem luzes quaisquer sombras projectando. Mas fogueiras intensas no cérebro ardendo.



 

Imaginem



Uma soturna caverna repleta de lúgubre solidão. Numa total e completa escuridão. E os condenados tendo outrora vivido num diverso mundo de luz e cor.



 

Imaginem



Uma palavra maldita e escondida. Que para os sadios é realidade perturbadora. Temor de improvável contágio ou desconforto que longe querem ver.



 

Imaginem



A dor agravada pela rejeição. Pela incompreensão e exclusão. Ignoradas palavras são solidariedade e comiseração.



 

Imaginem



Sofrimento de quem ouve de que falta de vontade padece. Que a cabeça é que comanda. Mas se ela trai e o raciocínio suspende?



 

Imaginem



Que sabem que o inferno é real. Que de sonhador pouco resta. E que poucos a nós se juntam.



 

Imaginem



A mágoa de quem ouve que é fraqueza e inaptidão. Que entre os mais próximos piores algozes por vezes encontram. Incompreendendo insidioso mal por outrem padecido.



 

Imaginem



Brilhantes mentes lutando em vão. Em escuras cavernas se fechando. Se culpando pela incapacidade de alterar sua situação. Se afogando em tristeza e dor.



 

Imaginem



Qual Sísifo empurrando marmórea pedra montanha acima. Rolando continuamente de volta em vão duro esforço dispendido. Esmagando ténues esperanças de retorno a outra vida.



 

Imaginem



Frágeis guerreiros em doze trabalhos de Hércules. Cortando sem cessar as cabeças da Hidra. Mas sem Iolau queimando as feridas e as cabeças então renascidas.



 

Imaginem



Quão difícil é suportar a desilusão de se sentir um diminuído ser. E desesperados mudos gritos de ajuda sem resposta no sofrer. No suicídio alguns buscando conforto para tanto tormento.



 

Imaginem



Que amor e compaixão são precário remédio para o ente atormentado. Como cristal então ser protegido e cuidado. Porque a mente ainda brilha por entre as pesadas nuvens da escuridão.




 


(Dedicado a todos os que padeceram ou padecem ainda de depressão)



 

José Paulo Pinto Lobo



 

Cascais, 24 de Junho 2021





 

 

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