segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

"Serpenteava..." - Casimiro de Brito

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Serpenteava. Ela serpenteava.
Uma planta trepadeira! Trepava e depois afundava-se.
Uma dança de ventre com a mulher,
a flor mais viva do jardim, deitada.
Sob mim e sobre mim, envolvendo-me, sugando-me, bebendo-
me, abandonando-se, possuindo-me, recuperando-me
para um dentro dela que se assemelhava a um lago vivo,
cheio de peixes e de estrelas cheio.
Um lago de margens frondosas,
dedos, braços, pernas, bocas, nádegas —
frondosas e feiticeiras.
E era tanta a doçura que eu sentia que a morte,
uma morte gentil, parecia aproximar-se.
Aproximava-se.
E, com ela, o mais indizível dos prazeres,
aquele que me fazia, que me faz esquecer que,
mais do que um homem,
sou um sopro generoso (e obrigado)
que vem de muito longe.


Casimiro de Brito

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