domingo, 23 de abril de 2017

"Amo-te porque ..." - Casimiro de Brito

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Amo-te porque sou dependente do teu odor.
Amo-te porque balanças nos ventos futuros.
Porque sou uma árvore que se abriga à tua sombra.
Amo-te porque só sei respirar na cidade de Eros.
Amo as marcas indecifráveis de todas as etnias
que produzem a beleza do teu rosto.
Bebo nas tuas coxas o linho molhado da minha infância.
Amo-te porque és alucinação e mulher real
no mesmo corpo volátil. Amo-te
porque também de noite és o meu sol quotidiano.
Amando-te não preciso de correr por montes e vales
em busca da mais antiga das mães. Tu, a irmã
da minha vagabundagem sempre inaugural. Amo-te
porque deixei de ter pressa. Um poema infinito,
uma cascata em cada sílaba. Uma lua que me engole
quando começo a ser sábio. A vegetação
no jardim que foi de pedra. Conheci na tua carne
a lama do meu reino luminoso. Amo-te
porque me fazes saltar o coração e lá vai ele
a caminho do país dos cedros. E assim renasço
no enigma da tua carne que no chão deitada, voa.


Casimiro de Brito

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