quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Claude Lévi-Strauss: o mitólogo

O antropólogo mais famoso do século XX poderia intimidar qualquer candidato a biógrafo. Claude Lévi-Strauss, que morreu há dois anos, negava que sua pessoa tivesse qualquer interesse. Dizia que lembrava pouco de seu passado e tinha a sensação de que não havia escrito os próprios livros. Segundo suas palavras, ele era apenas uma “encruzilhada passiva” onde “coisas aconteciam”: “Eu nunca tive, e ainda não tenho, a percepção de sentir minha identidade pessoal. Eu me vejo como o lugar onde alguma coisa está acontecendo, mas não existe um ‘eu’.”
Essas afirmativas tampouco eram meras confissões pessoais. Seu sistema intelectual baseava-se numa rejeição radical da significação do sujeito e até mesmo de sua realidade. Essa dupla barreira seria obstáculo suficiente para uma biografia. Mas há outro obstáculo, ainda mais difícil: paradoxalmente, Lévi-Strauss é também autor de um livro de memórias, Tristes Trópicos, uma obra-prima literária incontestável, na qual ele definiu as experiências que considerava decisivas de sua vida. Quem poderia fazer melhor? Com certeza, nenhum cronista convencional. Na cultura francesa, onde há muito tempo a arte da biografia é notoriamente fraca, a única tentativa de traçar um retrato de corpo inteiro do antropólogo, feita por Denis Bertholet em 2003, é testemunho suficiente dessa deficiência.
Patrick Wilcken desafiou todas as dificuldades. Claude Lévi-Strauss: O Poeta no Laboratório, publicado pela editoraObjetiva, é ao mesmo tempo uma biografia e um estudo crítico do pensador do mais alto nível. Gracioso e vívido como narrativa, é também um modelo de apreciação intelectual. Livre tanto do impulso reverencial como da tentação de desmascarar, Wilcken produziu um relato maravilhosamente tranquilo e lúcido da vida e do pensamento de seu biografado.
Para ler o texto completo de Perry Anderson, clique aqui

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