quarta-feira, 3 de julho de 2013

Signos engrouvinhados, vândalos engravatados

 
Há coisa de dez anos, o nome do francês José Bové correu o mundo. Líder de comícios antiglobalização, ganhou aura de celebridade radical. Em 2002, arranjou uma boa encrenca com as autoridades de Villeneuve-lès-Maguelone, em Montpellier, no sul da França, por depredar uma lanchonete do McDonald's.
Bem sabemos que Bové não foi o único praticante dessa modalidade de protesto. Desde que começaram a eclodir na Europa as jornadas contra a globalização, na virada do século, esse negócio de quebrar instalações do McDonald's virou um esporte globalizado (com todo o respeito). A cada reunião do G-8, logo meia dúzia de rapazes saía correndo para jogar pedras nas vitrines da mais notória rede de hambúrgueres do planeta. Não que os agressores tivessem uma rusga com a funcionária do caixa ou com o moço que pilotava a chapa na cozinha. O ato não era pessoal, mas “político”, diriam eles. Na verdade, só era político porque era antes um ato linguístico (ou semiótico, se você preferir).
A explicação é relativamente simples. Ao lado da Coca-Cola, o logotipo do McDonald's alcançou o status de símbolo do “american way of life”, um selo inconfundível do imperialismo. A partir daí, depredar o signo do imperialismo (no caso, a lanchonete do McDonald's) virou sinônimo depredar o próprio imperialismo. É verdade que, no caso específico de Bové, investir contra a cadeia de fast food imperialista tinha significados outros, como rechaçar os transgênicos e amaldiçoar os alimentos importados que tiravam mercado dos agricultores e pecuaristas franceses – mas, fora essas esquisitices, o esporte globalizado de quebrar McDonald's foi o jeito performático que os manifestantes encontraram de gritar, na linguagem do espetáculo, “yankee, go home!” ou “vade retro, Tio Sam”.
Para ler o texto completo de Eugênio Bucci clique aqui

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