domingo, 16 de dezembro de 2012

"Caminhemos serenos" - PAPINIANO CARLOS

Caminhemos serenos

Sob as estrelas, sob as bombas,
sob os turvos ódios e injustiças,
no frio corredor de lâminas eriçadas,
no meio do sangue, das lágrimas
caminhemos serenos.

De mãos dadas,

através da última das ignomínias,
sob o negro mar da iniquidade
caminhemos serenos.


Sob a fúria dos ventos desumanos,
sob a treva e os furacões de fogo
aos que nem com a morte podem vencer-nos
caminhemos serenos.

O que nos leva é indestrutível,
a luz que nos guia connosco vai.
E já que o cárcere é pequeno
para o sonho prisioneiro,

já que o cárcere não basta
para a ave inviolável,
que temer, ó minha querida?
caminhemos serenos.

No pavor da floresta gelada,
através das torturas, através da morte,
em busca do país da aurora,
de mãos dadas, querida, de mãos dadas
caminhemos serenos.
Papiano Carlos*
*Nasceu em 1918 em Lourenço Marques (Maputo – Moçambique) e faleceu no Porto no dia 06/12/2012. Com dez anos de idade foi para Portugal, vivendo no Porto, em cuja Faculdade de Engenharia se licenciou. Ligado ao movimento neo-realista, foi colaborador da "Seara Nova", da "Vértice" e do "Jornal de Notícias” e de outras revistas e jornais. Principais obras publicadas: Esboço, (1942); Estrada Nova, (1946); Terra com Sede, (1946 ); Mãe Terra, (1952); Caminhemos Serenos, (1957); Uma Estrela Viaja na Cidade, (1958); A Menina Gotinha de Água (1962).

0 comentários:

  © Blogger template 'Solitude' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP