sábado, 3 de dezembro de 2011

Cinco fragmentos poéticos de Affonso Ávila


6/ V INTERNACIONAL


O poeta é visto todos os sábados no bar com um grupo de jovens dentre eles um negro e um barbado

O poeta é visto todos os sábados no bar com um grupo de jovens
negros e barbados

O poeta é visto todos os sábados no bar com um grupo de jovens
barbados

O poeta é visto no bar com um grupo de jovens barbados

O poeta é visto no bar com um grupo de barbados

O poeta é visto com um grupo de barbados

O poeta é visto com uns barbados estranhos

O poeta é visto com uns barbados suspeitos

O poeta é visto com uns suspeitos

O poeta é um suspeito

O poeta é suspeito

O POETA É UM TERRORISTA


7/ LE BATEAU IVRE


Os jovens cabeludos da rua onde mora o poeta têm fama de fumar
maconha

Os jovens cabeludos da rua onde mora o poeta fumam maconha

Os jovens cabeludos fumam maconha na rua do poeta

Os jovens cabeludos fumam maconha na casa do poeta

Os jovens cabeludos fumam maconha em sua casa com o poeta

Os jovens cabeludos buscam maconha na casa do poeta

Os jovens cabeludos buscam drogas na casa do poeta

Os jovens saem drogados da casa do poeta

Os jovens são drogados pelo poeta

O POETA É UM TRAFICANTE DE DROGAS


8 / PARNASO OBSEQUIOSO

O poeta recusou convite do governador para jantar em seu palácio
com o ministro

O poeta foi convidado pelo governador para jantar em seu palácio
com o ministro

O poeta convidado pelo governador foi jantar em seu palácio com
o ministro

O poeta jantou no palácio com o governador e o ministro

O poeta costuma jantar no palácio com o governador e seus convidados

O poeta janta sempre no palácio com o governador e seus convidados

O poeta jantando no palácio causa prazer ao governador e seus
convidados

O poeta alegra o governador e seus convidados nos jantares do palácio

O poeta diverte o governador e seus convidados

O poeta faz rir o governador e seus convidados

O POETA É UM BOBO-DA-CORTE DO SISTEMA


9/ PSICOLOGIA DA COMPOSIÇÃO


O poeta articula lentamente as palavras e a gente parece perceber entre uma e outra longos espaços de reflexão e silêncio

O poeta articula lentamente as palavras e a gente percebe entre uma e outra longos espaços de salivação e silêncio

O poeta procura lentamente as palavras e a gente percebe entre uma e outra longos espaços de salivação

O poeta fala com dificuldade parecendo mastigar e salivar as palavras

O poeta fala com muita dificuldade e a boca cheia de saliva

O poeta não sabe falar e mastiga jocosamente as palavras

O poeta masca as palavras como se mascasse chicletes

O POETA É UM RUMINANTE DE PALAVRAS


10 / ARTE DE FURTAR

O poeta declarou que toda criação é tributária de outras criações no
permanente processo de linguagem da poesia

O poeta afirmou que todo criador é tributário de outros no processo
de linguagem da poesia

O poeta se confessou um criador tributário de outros na linguagem de
sua poesia

O poeta não esconde que sua poesia é tributária da linguagem de
outros criadores

O poeta não esconde que sua poesia é influenciada pela linguagem de
outros criadores

O poeta não faz segredo de que se utiliza da linguagem de outros poetas

O poeta fala abertamente que se apropria da linguagem de outros poetas

O poeta é um deslavado apropriador de linguagem

O POETA É UM PLAGIÁRIO



Affonso Ávila


Cinco dos onze fragmentos do DISCURSO DA DIFAMAÇÃO DO POETA que podem ser encontrados no volume "Homem ao termo – poesia reunida [1949-2005]", editado pela UFMG.  

1 comentários:

Anônimo 29 de julho de 2020 às 10:50  

muito bom!,
ser poeta é muito perigoso...

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